segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

O mistério da área ardida nos fogos de 15 de Outubro de 2017 (2ª parte)

Este post é a continuação do post de ontem, onde se perguntava: afinal que área ardeu nos fogos de 15 de Outubro? A dúvida estava entre o valor dado pelo valor ICNF, 217 020 hectares, e o do EFFIS, 315 277 hectares, quase 50% maior.

Os valores do ICNF são usados em estatísticas oficiais portuguesas e em bases de dados como a PORDATA, para além de serem referidos pelos meios de comunicação social. Os do EFFIS são os do sistema de gestão de emergência da União Europeia. Como é possível que quase dois meses após os fogos de 15 de Outubro haja tanta incerteza em números tão importantes para caracterizar aquela que foi uma das maiores catástrofes que se abateu sobre o país?

Procurámos saber o que se passa. Não sabemos ainda o número correcto para a área ardida, mas pensamos que o número do ICNF para a área ardida nos fogos de 15 de Outubro de 2017 está muito abaixo do verdadeiro valor, pelas razões que expomos a seguir.

Lembremos o nosso post anterior, onde vimos que o EFFIS e o ICNF concordam na área ardida em Portugal até à 40ª semana de 2017 (7 de Outubro), indicando ambos áreas próximas dos 250 mil hectares ardidos até então (mais exactamente, 248 661 hectares para o EFFIS e "255 011.009" hectares para o SGIF, serviço usado pelo ICNF). Uma vez que a área total ardida em Portugal até ontem, indicada nos respectivos sites é:
conclui-se por simples subtracção que as estimativas para a área ardida após 7 de Outubro são:
  • 315 277 hectares para o EFFIS e 
  • 187 406.98 hectares para o ICNF/SGIF, o que é uma diferença enorme.
O SGIF tinha ontem no seu site um valor diferente, "472 030.937" hectares para a área ardida até ontem, pelo que se lhe subtrairmos os "255 011.009" hectares ardidos até 7 de Outubro temos a área ardida após 7 de Outubro para o ICNF/SGIF: 
  • 217 020 hectares.
Hoje juntamos a seguinte informação:
  • o ICNF tem no seu site um ficheiro shapefile de 27/10/2017 que permite ver as áreas que foram usadas (pelo ICNF) para estimar a área ardida, as quais dão um novo valor, mais elevado: 
    • 492 102.8 hectares.
Se subtrairmos a este número a área ardida até 7 de Outubro, ficamos com uma estimativa do ICNF para a área ardida após 7 de Outubro que se aproxima mais da do EFFIS, mas que ainda assim fica bastante distante:
  •  237 092 hectares.
No entanto, se abrirmos o ficheiro shapefile num programa de GIS (Sistema de Informação Geográfica) juntamente com uma imagem de satélite obtida após os fogos de 15 de Outubro de 2017, observamos que os 492 102.8 hectares das regiões desenhadas pelo ICNF/SGIF não chegam a cobrir toda a área ardida. Vejamos as seguintes imagens:

Imagem de satélite após os fogos de 15 de Outubro de 2017 com as regiões delimitadas de fogos até 7 de Outubro. As zonas a castanho/cinzento representam as regiões ardidas após 7 de Outubro.

A mesma imagem de satélite com todas as regiões delimitadas pelo ICNF no ficheiro de 27 de Outubro de 2017.

Região em torno da barragem da Aguieira, onde se vêem zonas ardidas (a castanho) não incluídas na estimativa de área ardida.


Idem para a zona a norte da imagem anterior.

A imagem anterior sem a zona delimitada a azul escuro, para comparação.

Zona a norte da imagem anterior, também com área ardida (a castanho) não incluída nas regiões delimitadas.

Imagem anterior sem a região azul escura, para comparação.
Parece assim muito provável que a área ardida em 2017 seja consideravelmente maior do que a que é indicada no site do ICNF. Porquê tanto atraso a precisar a área ardida em 2017 em Portugal? Como é possível que não sejam explicadas as disparidades existentes entre o relatório provisório do ICNF (o último disponível, de 1 de Janeiro a 31 de Outubro, que serve de referência) e os dados do SGIF, a shapefile do ICNF, as áreas castanhas (ardidas) nas imagens de satélite e as estimativas do EFFIS?    

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